hecatombes




"Cara, uma pergunta: por que você acha que as pesoas vão gostar de uma coisa que é deliberadamente feita para ser agressiva contra aqueles que estão o escutando? Por que sangrar os ouvidos dos seus ouvintes, da sua mãe e dos seus amigos? Gostaria de entender o que o motiva nessa insana empreitada." (Caco Rocha)



"Visceral. Estava muito bom mesmo [o show no terraço]. Fiquei inspirado pelo momento 'I will eat your soul'." (Fernando Bakos/Temper Faktor)



"A banda input_output, convidada para abrir o show [dos Superphones], mostrou completa falta de sensibilidade com uma performance chatíssima. Muito cabeça, muita poesia nível um e principalmente pretensão. Ninguém conseguiu entrar no clima. Somos todos burros para o som cabeça deles. Desculpe, leitor, não posso passar um retrato fiel de tamanha arte." (Eduardo Menezes, criador das camisetas Cove, como as duas abaixo)






"Cara, quando tu começou a bater naqueles pratos, deu vontade de ir até onde tu tava e te sacudir até que tu voltasse ao normal." (Flávio Boff)



"O show no Mosh em 22 de setembro de 2006 foi um dos shows mais alucinados que eu já fiz. Devido ao horário e a sede em operar a barulheira, o resultado foi terrorismo da melhor qualidade." (Felipe Oliveira/input_output LIVE)



Primeira formação ao vivo do input_output. Foto por Lauro/Estúdio Ampola.

Douglas Dickel, Felipe "Mac" Oliveira, Mateus D'Almeida e Renan Stiegemeier.

LETRAS

[eu contenho todos os meus anos dentro de mim] marcha soldado, cabeça de papel! quem não marchar direito vai preso pro quartel! o quartel prendeu (sic) fogo, o francisco deu o sinal: acuda, acuda, acuda a bandeira nacional! {folclore} -iris, tocou uma música que parou. -música? -música de violão. {iris e selvina, na secretária eletrônica} [caminho] o piso reflete o céu. [joelho] os traumas me deixam cheio de dedos. eu queria ter apenas um. [escombros] vamos juntar os nossos escombros e formar a cidade mais bonita do mundo. [aço, asfalto, plástico] a minha alma respira com dificuldade porque o asfalto lhe cobre quase que totalmente a pele. sobre ele andam tantas máquinas de aço quantos são os seres da espécie humana que recebem bastantes folhas na troca por uma escravidão disfarçada durante dez horas e meia de um dia de vida. minha respiração é defeituosa devido à combustão de líquidos de que essas máquinas precisam para se locomover mais rápido. há pressa. e elas são muito muito pesadas e rápidas. e matam. meus olhos enxergam embaçado por causa das cores e letras em toda parte. cores e letras cores e letras cores e letras. meu ouvido não presta mais, porque não param de invadi-lo os zumbidos dos motores de máquinas climáticas, máquinas de dados, máquinas de luz, máquinas de onde saem diálogos de novelas e notícias sérias & máquinas de onde saem coisas similares a músicas, produzidas por seres humanos para trocar por bastantes folhas daquelas. são máquinas dentro de máquinas, e nem se eu começasse a escavar agora, nos meus vinte e seis anos, eu conseguiria romper todo o aço e todo o plástico até a hora do meu fim para poder encostar no planeta. isso se o meu fim existir. se os fins tiverem permissão para existir. [cada vez mais] mais se pensa, mais se sabe. mais se sabe, mais se sofre. mais se sofre, mais se cresce. mais se cresce, mais se faz. mais se faz, mais se sobe. mais se sobe, mais se cai. mais se cai, mais se sofre. mais se sofre, mais se sente. mais se sente, mais se sofre. [medo] não consigo mais dormir, atormentado pela memória coletiva dos que foram surpreendidos com a morte durante o sono. [indústria brasileira de lavadoras automáticas] -hey! are you a dreamer? {waking life} indústria brasileira de lavadoras automáticas. [albatroz] -it was one of those days when it's a minute away from snowing and there's this electricity in the air, you can almost hear it. and this bag was, like, dancing with me. like a little kid begging me to play with it. for fifteen minutes. and that's the day I knew there was this entire life behind things, and... this incredibly benevolent force, that wanted me to know there was no reason to be afraid, ever. {beleza americana} dorme voando. voa dormindo. mantém-se imóvel viajando no céu. pode ser abatido facilmente, por predadores maus. mas é o instinto. a natureza sabe o que faz, não? enquanto vive, sonha com o mar que vai passando abaixo dos pés. a luz do sol faz reflexo na água, que parece fresca e parece morna. ela é molhada, como a chuva, que pode fugir de nuvens cinzas carregadas de uma eletricidade que pode abatê-lo. enquanto vive, sonha com nuvens branquinhas que cantam e também sonham como ele. [insect-project] fly: may be a insect, may be a project. [joseph campbell] sabemos que jesus não poderia ter ascendido ao paraíso pois não existe nenhum paraíso físico em qualquer parte do universo. mas se você ler ‘jesus ascendeu ao paraíso’ em termos de sua conotação metafórica, entenderá que ele foi para dentro; não pro paraíso exterior, mas pro paraíso interior, pro lugar de onde provêm todas as coisas, pra consciência de que cada um é a fonte de todas as coisas. jung escreveu que o mito dos ovnis tem a ver com as expectativas visionárias da humanidade. as pessoas esperam visitantes do espaço exterior porque acreditam que nossa libertação virá de lá. mas o reino do pai não virá com a espera. nós o produzimos em nós mesmos. o reino é aqui. e a eternidade não é um tempo vindouro. não é sequer um tempo de longa duração. eternidade não tem nada a ver com o tempo. eternidade é aquela dimensão do aqui e agora em que o tempo não existe. se você não atingir a eternidade aqui, não vai atingi-la em parte alguma. e uma última questão: será que deus existiria se não existisse ninguém? não. existem tantos deuses quantas pessoas existem pensando em deus. quando a senhora oliveira e o papa pensam em deus, não é o mesmo deus. cada um escolhe a sua maneira de olhar para o universo. [banho quente] a água quente do chuveiro cai na minha cabeça. escorre pelo meu corpo. molha meus pés. fecho os olhos e vejo os anjos evaporarem do chão. new angel flies. ouço as guitarras. penso no calor da infância. no frio da adultez. penso no calor úmido da carne. no bife à milanesa. na água da banheira. na água da lagoa. na água do mar. minha mente e a água quente do banho quente são uma pessoa só. me seco e penso no vento que me embala. penso no sonho do sono. penso do show. vejo a beleza. vejo o sexo. sinto frio. sinto fome. penso que a toalha é uma capa. sou o super-nu. fecho os olhos e suspiro. [qualquer lugar/somewhere] -por favor, pode me informar para que lado devo ir? -isso depende de onde você quer chegar. -a qualquer lugar. -neste caso vá por qualquer lado. -que tipo de gente mora por aqui? não quero visitar gente maluca. -aqui somos todos malucos. {alice no país das maravilhas} -so where do you want out? -ah, who me? am i first? um, i don't know. really anywhere is fine. well, just give me an address or something, okay? -i'll tell you what, go up three more streets, take a right, go two more blocks, drop this guy off on the next corner. -where's that? -i dunno either, but it's somewhere. and it's going to determine the course of the rest of your life. {waking life}